CARTA PASTORAL
POR OCASIÃO DO INÍCIO DO TRIÊNIO
DE PREPARAÇÃO PARA O CENTENÁRIO
DA DIOCESE DE CRATO
20 de outubro de 2011
Aos Padres, Diáconos,
Religiosas e Religiosos, Seminaristas, Agentes de Pastoral das
Paróquias e Comunidades, leigas e leigos consagrados: amados
colaboradores no meu ministério pastoral a serviço da Igreja Particular
que está em Crato.
1. Introdução
Exultai cantando alegres, habitantes de Sião, porque é grande em vosso meio o Deus Santo de Israel (Sl 12,6).
Povo de Deus, celebramos, nesta data, o
97º aniversário da criação da nossa Diocese de Crato. No dia 20 de
outubro de 1914, o Papa Bento XV – em sua solicitude pastoral para com
toda a Igreja – quis dar um novo impulso à ação e à presença da Igreja
Católica no Ceará, dando-lhe uma nova diocese, situada no sul do Estado,
com sede aqui no cariri, desmembrando-a da Diocese de Fortaleza. Nascia
a nossa Diocese de Crato, que caminha agora para comemorar um século de
vida e missão neste chão e celebrar um Ano Jubilar no seu centenário.
2. Diocese: Igreja de Cristo
Diocese é a porção do Povo de Deus
confiada ao pastoreio de um bispo, legítimo sucessor dos Santos
Apóstolos, e ocupa um determinado espaço territorial. Em cada Diocese,
também chamada de Igreja Particular ou Igreja Local, encontramos
plenamente a Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica. Na Diocese de
Crato, portanto, está presente de maneira total a Igreja de Cristo, da
mesma forma que está em Roma, ou em qualquer outra Diocese nos mais
humildes e desconhecidos recantos da Terra.
Normalmente, os católicos estão mais
ligados às suas comunidades e paróquias, faltando-lhes uma visão de
Igreja como um todo. Porém, se uma comunidade não estiver em plena
comunhão com sua Diocese, não pode propriamente se considerar uma
comunidade católica. É a nossa comunhão na Diocese, pastoreada por um
Bispo em plena comunhão com o Bispo de Roma, ou seja, o Papa, que faz da
nossa comunidade também uma comunidade católica. Também os Padres não
são pastores isolados em suas paróquias: eles fazem parte de um
presbitério, de uma comunhão de presbíteros que, junto com o Bispo,
pastoreiam a Igreja diocesana, e do mesmo sentimento de comunhão e
colaboração participam os diáconos. Com esta motivação, no dia 20 de
outubro de 2014, faremos cem anos de existência e podemos entender
porque é tão importante celebrarmos o centenário da nossa Diocese.
Significa que a Igreja católica, há cem anos, pelo ministério do Papa
Bento XV reconheceu que aqui, no Sul do Estado do Ceará, havia uma
maturidade eclesial suficiente para nos tornarmos uma Igreja Diocesana.
3. Jubileu: Demos graças ao Senhor nosso Deus!
Amados irmãos e irmãs, o Centenário da
Diocese de Crato será precedido de uma preparação de três anos, que
iniciamos com esta carta. No último ano, precisamente a partir de 20 de
outubro de 2013, proclamaremos um ano jubilar, um ano de Graça. Peço a
Deus, portanto, que esta carta pastoral os encontre com as melhores
disposições de espírito, para realizarmos com grande empenho pastoral a
celebração do JUBILEU DIOCESANO, com solene culminância no dia 20 de
outubro de 2014.
O Jubileu é coisa da Bíblia Sagrada: já
no Antigo Testamento, a cada cinquenta anos o Povo da Aliança dedicava
um ano de louvor à santidade do seu Deus que, em seu Amor fiel, mandava
perdoar as dívidas e libertar os escravos (Dt 15, 12-15). No Novo
Testamento, o Ano Jubilar encontra em Jesus Cristo a sua realização
definitiva (Lc 4,18-19): Ele realiza “um ano de graça” com as suas
palavras e, sobretudo, com as suas obras; com sua Vida, Morte e
Ressurreição.
No limiar do centenário da nossa
Diocese, como Povo da Nova aliança, contemplamos quantas coisas bonitas
marcaram a nossa história. E quantas outras coisas lindas nos esperam. O
Senhor continua nos chamando a trabalhar na sua vinha. Com um olhar de
fé e de amor, agradeçamos a misericórdia divina que confia em nós e nos
envia para continuar, com novo ardor e novos métodos, a missão iniciada
nesta Diocese há quase um século.
Pelos trabalhos missionários realizados,
pelas luzes e as sombras na nossa ação evangelizadora, pelos avanços e
recuos na caminhada, pela experiência da nossa pequenez e pecado,
advertimos nesta hora os impulsos da Graça do Espírito, para buscar e
testemunhar mais ainda a santidade de Deus na nossa vida. “Tudo é
graça”, podemos dizer com Santa Teresinha. Queremos louvar e dar graças a
Deus pelo passado, pelo presente e pelo futuro da nossa Igreja
diocesana.
4. Anseios e exigências no Jubileu diocesano
Embora seja uma data importante e
simbólica para nós, o interesse principal do Centenário é que cada um de
nós renove sua alegre pertença, seu amor, seu serviço e dedicação à
querida Diocese de Crato, na consciência de sermos uma “Igreja romeira e
missionária”; que busquemos ser uma Diocese: comunidade de discípulos
missionários sempre a caminho; afinada e solidária com os buscadores do
Reino de Deus e da sua justiça, trilhando junto com a humanidade, sem
parar, os longos caminhos de pedra e areia da romaria de um povo em
busca da salvação que vem de Deus.
Porque almejamos mais que uma simples
comemoração histórica, há algum tempo, estamos nos preparando para o Ano
Jubilar no Centenário da nossa Diocese. Mais recentemente, em todas as
nossas Paróquias e Comunidades, as Santas Missões Populares foram um
verdadeiro mutirão de formação de missionários e de evangelização.
Demo-nos conta que vivemos novos tempos, que os desafios culturais e
religiosos no nosso meio nos obrigam a uma ação pastoral estudada,
planejada e organizada. Já não podemos improvisar as nossas atividades.
As Santas Missões Populares nos incentivaram a organizar em setores
pastorais e missionários as comunidades das nossas Paróquias, tornando
as Paróquias redes de comunidades. Para isso, precisamos avançar mais,
vencendo resistências, apostando no Espírito que fala à nossa Igreja
através do Magistério e acolhendo o convite pressuroso para passarmos de
uma pastoral de manutenção para uma pastoral de conversão e inovação na
nossa ação missionária.
Oxalá o Jubileu Diocesano, assim como a
preparação para o 13º Encontro Intereclesial das CEBs em 2014 na nossa
Diocese, motivem todas as nossas Comunidades e Paróquias para
implantarem os COMIPAs (Conselho Missionário Paroquial), um serviço
importante para a conversão pastoral, a renovação missionária e o
crescimento da consciência missionária no Povo de Deus, a serviço da
vida. As nossas comunidades e Paróquias, em memória das Santas Missões
Populares e em preparação ao Jubileu Diocesano, estão acolhendo a visita
do Santuário Missionário da Missão Continental em suas Capelas e
Igrejas. Trata-se de um símbolo muito eloqüente: Jesus, o Enviado e
Missionário do Pai, visita comunidade por comunidade, povoado por
povoado, paróquia por paróquia; é acolhido pelo povo, evangeliza com a
sua presença e com a sua Palavra (leitura orante da Bíblia) e conclama
para a conversão: uma vida nova no Amor do Pai e dos irmãos. Quem acolhe
Jesus em sua casa, torna-se missionário como Jesus: imita Jesus
Missionário que saiu da sua casa, o céu, se fez nosso companheiro de
viagem e nos convida para segui-lo no caminho da missão: Ide, anunciai o
Evangelho!
“O princípio da missão consiste no
seguinte: não podemos esperar que as pessoas venham a nós, precisamos
nós ir ao encontro delas e lhes anunciar a Boa Nova ali mesmo onde se
encontram. Isso parece quase óbvio.... Missionário não é, em si, aquele
que acolhe, mas é o acolhido... Uma Igreja enviada é uma Igreja que está
fora de casa, que faz a experiência radical do seguimento, do
despojamento e da itinerância, como companheira dos pobres (cf DA 398) e
como hóspede na casa dos outros. O discípulo é essencialmente um
peregrino e um enviado que deixou casa, irmãos, irmãs, pai, mãe, filhos,
terras, por causa de Jesus. Esse Jesus disse: “Eu sou o Caminho” (Jo
14, 6) e não: “Eu sou a chegada”... Se “missão” significa “envio”, todo
envio pressupõe um deslocamento e uma saída... A conversão missionária
da qual fala o Documento de Aparecida (DA) em uma de suas páginas
centrais (cf 7.2 - Conversão pastoral e renovação missionária das comunidades)
trata-se substancialmente de uma saída. Na saída de si, do círculo da
própria comunidade e dos confins da própria terra, se realiza para a
Igreja essa conversão. Paradoxalmente, é nessa saída que a Igreja
encontra sua razão de ser e sua própria identidade” (E. Raschietti, Conversão Pastoral e Renovação Missionária, em Revista Missões , Maio 2009).
5. Preparar e celebrar o ano da graça do Senhor
Iniciamos hoje, a caminhada rumo ao
Grande Jubileu no centenário da Diocese de Crato. Três anos para fazer
memória da vida da nossa Igreja diocesana, para ouvir a voz de Deus que
nos fala através dos Pastores e da história do nosso Povo, para acolher
os apelos da Providência de Deus a renovar a nossa missão no mundo e na
Igreja, para celebrar com alegria as maravilhas do Senhor e professar a
nossa fé: Jesus Cristo é o Senhor! Da nossa Diocese Ele é o Senhor! Do nosso passado, do nosso presente e do nosso futuro Ele é o Senhor!
Ao longo destes três anos muitas
iniciativas pastorais, históricas, culturais e litúrgicas irão
acontecer. Na Assembléia Diocesana de Pastoral, que acontecerá nos dias
25 e 26 de novembro do ano em curso, serão definidas e agendadas estas
atividades. Posso já antecipar que, acolhendo o chamado do Papa Bento
XVI para toda a Igreja no domingo, dia 16 de outubro, celebraremos, de
outubro de 2012 a outubro de 2013 o Ano da Fé. No ano de 2014, ano
conclusivo do Jubileu Diocesano celebraremos festivamente o III
Congresso Eucarístico Diocesano e a Dedicação da nossa Catedral.
Preparemo-nos para participar com empenho, e com espírito de comunhão
fraterna, redescobrindo e valorizando a “diocesaneidade” que nos deve
sempre motivar e alegrar em todos os nossos empreendimentos.
É tempo de Jubileu! Toquem os sinos das
nossas Paróquias e Capelas anunciando a todos que chegou a hora de Deus
para festejar o centenário da nossa Diocese romeira e missionária. E que
os Anjos digam: Amém! Nós também, em coro, digamos: Amém! É Tempo de
louvar e, com São Paulo, dizer: “Bendito seja Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com toda bênção espiritual nos céus, em Cristo” (Ef 1,3). É tempo de conversão! O Jubileu é por sua natureza uma chamada à conversão. É tempo de festejar a caminhada!
Jubileu é tempo para mostrar o nosso
rosto diocesano. Toda a Igreja particular tem seu rosto próprio. O rosto
da Igreja de Crato tem em seus traços uma Igreja acolhedora, romeira,
solidária, samaritana, educadora, missionária, fortemente eucarística e
mariana. Uma diocese ministerial, agraciada com numerosas vocações para
os ministérios Ordenados e não Ordenados, uma Igreja que se reconhece
nas CEBs, que acolhe os Movimentos eclesiais, que reconhece nas Novas
Comunidades o sopro do Espírito Santo, que se articula em Pastorais, que
planeja e avalia a sua ação pastoral articulada, orgânica e de
conjunto. É lindo o rosto da nossa Diocese. Cuidemos para que ela,
Esposa de Cristo e nossa Mãe, seja sempre mais bela, com seu rosto sem
rugas e sem manchas, uma Igreja que agrade ao Coração do Pai e seja
sinal de santidade e de vida para todos.
6.Memória e Gratidão: não estamos sós na caminhada
A Dom Quintino Rodrigues, nosso primeiro
Bispo, a Dom Francisco Pires, a Dom Vicente Matos, nossa gratidão e
oração de sufrágio. A Dom Newton Gurgel, nosso Bispo Emérito, sinceros
votos de boa saúde e felicidades. Aos Padres e Religiosos que doaram sua
vida pelo bem do nosso Povo, aos leigos e leigas que deixaram em suas
famílias e comunidades, exemplos de virtude e de fidelidade a Cristo e à
sua vocação na Igreja, nossa admiração e gratidão pelo estímulo a
sermos os herdeiros e continuadores do seu zelo. E a vocês, queridos
Sacerdotes, Diáconos, Seminaristas, Servos e Servas do Povo de Deus,
leigos e leigas caríssimos e amados, o meu sincero agradecimento pelo
seu testemunho de amor e fidelidade à nossa Diocese, e pelo afeto
fraterno e imerecido para comigo, vosso Bispo e pobre servidor.
7.Conclusão
Que a Virgem Maria, Nossa Senhora da
Penha, a excelsa Padroeira da Diocese, São José seu castíssimo Esposo,
todos os Santos e Santas da nossa devoção nas nossas capelas e
paróquias, nos acompanhem e nos motivem na celebração do Jubileu. Mas
também os amigos e amigas de Deus da nossa Diocese não canonizados, e
são mais do que vocês podem imaginar, todos aí no céu olhando e sorrindo
para nós – obtenham uma bênção especial para a nossa e sua Diocese
neste Jubileu. Entre eles, além do Pe. Cícero Romão Batista, podemos
saudar e reconhecer a Menina Benigna, a criança de 13 anos que no dia 24
de outubro de 1941, há setenta anos, foi assassinada no Distrito de
Inhumas, Município de Santana do Cariri, preferindo antes morrer do que
ofender a Deus pecando contra a pureza. Desta Menina Benigna, que já é
chamada de mártir da pureza, já iniciamos o Processo de Beatificação,
nesta Diocese. Se Deus quiser, não vai demorar muito, o esperamos, a
nossa Diocese de Crato terá uma Santa Mártir, reconhecida pela Igreja e
beatificada. Assim seja!
Queridos, é festa no céu e na terra
também! Deus nos conceda viver plenamente a graça do Jubileu da nossa
Diocese. Corações ao alto, Igreja centenária de Crato!
†Dom Fernando Panico, MSC
Bispo Diocesano de Crato