Dom Genival Saraiva
Bispo de Palmares - PE
Desde os primórdios ao momento presente,
a natureza fala de muitas maneiras à humanidade. Isso acontece quando
se vislumbra a realidade macrocósmica, como ocorre, atualmente, com as
investigações da astronomia no sistema planetário, e quando se constata
essa realidade num organismo individual. É sempre muito fascinante o
olhar sobre a natureza, naquela face que deixa grandes interrogações à
inteligência humana e naquela que, embora conhecida, não deixa de falar,
mesmo sendo lugar comum. Na verdade, não há como a inteligência não se
deslumbrar diante da complexidade da natureza, não como não se curvar
diante da sua obviedade.
Reconhecidamente, as coisas grandiosas e
raras chamam mais a atenção, enquanto as cotidianas passam
despercebidas, embora também tenham sua significação. Na literatura
eclesiástica, essa leitura é feita com saborosa singeleza, como se pode
constatar em dois textos. Ao comentar a obra Diatéssaron, de Taciano
(séc. II), Santo Efrém (séc. IV) escreve: “A palavra de Deus é a árvore
da vida a oferecer-te por todos os lados o fruto abençoado, à semelhança
do rochedo fendido no deserto que, por todo lado, jorrou a bebida
espiritual. (...) O sedento enche-se de gozo ao beber e não se aborrece
por não poder esgotar a fonte. Vença a fonte a tua sede, mas não vença a
tua sede a fonte. Pois, se tua sede se sacia sem que a fonte se esgote,
quando estiveres novamente sedento, dela poderás beber. Se, porém,
saciada tua sede também se secasse a fonte, tua vitória redundaria em
mal.” Quanto ensinamento, quanta verdade em afirmações tão simples e tão
óbvias. A natureza se encarrega de revelar a cada pessoa o grau de
saciedade em relação a uma coisa tão corriqueira quanto beber água. O
bom senso vai também falar à pessoa saciada, no tocante à necessidade de
preservar a fonte, porque logo mais precisará procurá-la, para “matar a
sede”. A água é um bem que deve ser objeto dos melhores cuidados por
parte da população e dos governantes. Hoje, em muitos lugares, a fonte
de onde jorra a água do consumo da população está sendo esgotada por
suas agressões, através de fatores como o desmatamento e a poluição
ambiental. A sabedoria popular revela que, em relação a essa matéria e a
muitas coisas, as pessoas e as empresas erram porque vão “com muita
sede ao poço” de seus interesses e de sua ganância, daí a falta ou a
diminuição da água, em muitas regiões e cidades.
Por sua vez, São Bernardo (séc. XII), ao
discorrer sobre a sabedoria, compara-a ao mel. “Na verdade, se
encontraste a sabedoria, encontraste o mel. Não comas demasiado, para
que, saciado, não o vomites. Come de modo a sempre teres fome. (...) Não
te sacies para que não vomites e te seja retirado aquilo que pareces
possuir, por teres desistido de procurar antes do tempo.” Em relação ao
alimento, a natureza também fala, através do limite identificado pelo
estômago. Com efeito, por melhor que seja o alimento, há sempre um
limite no seu consumo. Nesse ponto, há um paradoxo na sociedade: muitos
vão ao spar para emagrecer, enquanto outros vivem com estômago vazio,
permanentemente.
O carnaval destes dias será um
termômetro para leitura do comportamento humano. Segundo a natureza
física e social, quem falará mais: o equilíbrio ou excesso no ato de
beber e comer? o bom senso ou a extravagância no modo de conviver e de
se divertir?
Fonte: www.cnbb.org.br
Um comentário:
O carnaval é um período em que as pessoas liberam toda sua vontade de se divertir,fazendo-o de maneira inadequada. O homem precisa se reencontrar com Deus,menas diversão, e mais oração.
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