Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo de São Paulo (SP)
Arcebispo de São Paulo (SP)
No início do novo ano, brotam de todos
os lábios espontâneos e efusivos votos de felicidade e de paz. Nada mais
normal, pois olhamos para o futuro com esperança e gostaríamos que os
males e tragédias do passado não nos acompanhassem na passagem para o
tempo novo.
De onde, porém, nos pode vir a paz? Como
nós imaginamos a paz? Guardada em algum lugar, embalada e prontinha
para nosso uso e consumo? Ou, talvez, ela dependa da invocação de “bons
fluidos”, de alguma energia cósmica, a ser acordada e atraída com o
foguetório bonito, mas extremamente poluidor, da meia noite de 31 de
dezembro? Depende das boas graças de divindades, donas da paz, que nos
podem conceder, se bem quiserem, um pouquinho dela?
Na sua mensagem para o 46º Dia Mundial
da Paz, que a Igreja Católica celebra todos os anos no dia 1º de
janeiro, o papa Bento 16 nos lembra a promessa de Jesus:
“bem-aventurados os promotores da paz; eles serão chamados filhos de
Deus (Mt 5,9). Ele, Jesus, que veio ao mundo como o Príncipe da Paz, nos
convida a sermos ativos obreiros da paz. No dizer de São Paulo, “Ele
mesmo é a nossa paz”, que veio em nome do Deus da Paz para reconciliar a
humanidade com Deus e entre si. A paz não é fruto de um passe de
mágica, mas de atitudes coerentes e do esforço de todos e de cada um.
Verdadeira paz neste mundo já é
possível, sobretudo para quem tem fé em Deus. O fundamento último e o
sustento inabalável da paz é o próprio Deus; e quem está firme em Deus
pode ser operador esperançoso e perseverante da paz. O Deus da paz vem
em socorro de todos os construtores da paz e os reconhece como seus
filhos: “serão chamados filhos de Deus”.
Vários fatores são determinantes e devem ser cultivados pelo homem para que haja a possibilidade da paz. Para começar, a própria religião deve servir à paz; contrariamente, se ela for usada como instrumento ideológico para a violência, ou como manifestação fanática e fundamentalista contra os outros, então ela não é verdadeira nem presta culto a Deus; nesse caso, é um desvio da religião, uma espécie de enfermidade religiosa.
Vários fatores são determinantes e devem ser cultivados pelo homem para que haja a possibilidade da paz. Para começar, a própria religião deve servir à paz; contrariamente, se ela for usada como instrumento ideológico para a violência, ou como manifestação fanática e fundamentalista contra os outros, então ela não é verdadeira nem presta culto a Deus; nesse caso, é um desvio da religião, uma espécie de enfermidade religiosa.
Os obreiros da paz precisam estar
empenhados na obra da justiça – “fruto da justiça é a paz” – e na busca
da verdade. Sem esses dois fundamentos não haverá paz verdadeira e
estável. Da justiça decorre o respeito pelos direitos humanos e pela
dignidade inalienável de cada ser humano; o Papa faz referência à
justiça econômica, em âmbito local e mundial; ao respeito pela vida das
pessoas, em todas as fases da existência; como pode haver paz se o ser
humano é humilhado, desrespeitado, desprezado, violentado, até mesmo no
seu direito mais fundamental, que é o de viver?
A paz requer, além disso, a superação de
hábitos e estilos de vida que comprometem o convívio pacífico: o
egoísmo e o individualismo frios, insensíveis às necessidades e
sofrimentos alheios; e requer o cultivo de atitudes positivas, como a
solidariedade, a bondade, a capacidade de perdão e reconciliação, a
gratuidade no serviço ao próximo, especialmente aos mais necessitados.
Requer, enfim, respeito pela natureza, em vez da apropriação e
exploração individualista dos bens dessa nossa “casa comum”.
Enfim, recorda o Papa, é preciso buscar a
paz com perseverança e idealismo: a paz é possível, mas depende de uma
cultura da paz, que se suscita e desenvolve mediante um processo
envolvente de educação, que chama em causa todas as pessoas e agentes da
vida social: instituições políticas, organizações da sociedade civil,
organizações culturais, educacionais, religiosas... Muita educação para a
paz pode dar mais chances à paz. Família e escola têm um papel
preponderante na educação para a paz. Hábitos e atitudes violentas e
antissociais são aprendidas; mas, também, as convicções, hábitos e
atitudes de paz.
Desejo a todos os leitores um feliz e abençoado ano de 2013. Seja um ano de paz para todos! Sejamos todos “obreiros da paz”.
Desejo a todos os leitores um feliz e abençoado ano de 2013. Seja um ano de paz para todos! Sejamos todos “obreiros da paz”.
Fonte: www.cnbb.org.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário