Quer
você goste ou não, sendo humano, você tem uma sombra, segundo Carl Jung,
psiquiatra suíço, discípulo de Freud e criador da psicologia analítica. A
sombra se apresenta em diferentes faces: ambiciosa, egoísta, mandona, crítica,
censora, dissimulada, hostil, preguiçosa, manipuladora etc. A lista é interminável.
A
sombra, como diz o próprio nome, é o nosso lado sombrio e, por vezes, difícil
de aceitar. Ela age como um reservatório para os aspectos inaceitáveis da nossa
personalidade, todas as coisas que relutamos para não ser e que, na maioria das
vezes, nos provocam ódio, repulsa e embaraços.
Do
ponto de vista da Janela de Johari, a
sombra pode ser tanto o seu "eu aberto", ou seja, conhecido, mas
negado por você e conhecido pelo outros, quanto o seu "eu cego",
aquele conhecido pelos outros, mas desconhecido ou ignorado por você. Se você
não conhece a si mesmo, como pode conhecer os outros?
Em
diferentes momentos, ela apresenta-se com uma cara que você não deseja mostrar
ao mundo tampouco a você mesmo, entretanto, o fato de você ignorá-la não
significa que ela deixará de existir. Para livrar-se da sombra, temos de
aprender a existir e a livrar-se do medo, o que não é tão simples assim.
Considerando
as imperfeições do ser humano e a predisposição de cada um para julgar ou
prejulgar os outros, se quiser realmente ser livre você precisa, antes de tudo,
parar de julgar a si mesmo. Se eu próprio, ser humano consciente das minhas
imperfeições, não consigo me livrar delas facilmente, porque deveria exigir que
os outros assim o fizessem?
O
poeta e escritor norte-americano Robert
Bly descreve a sombra como uma mochila invisível que cada ser humano
carrega nas costas. Na medida em que crescemos, guardamos na mochila todas as
características que não são aceitas pela família e pelos amigos. Segundo Bly,
as pessoas passam as primeiras décadas de vida enchendo a mochila e gastam o
restante tentando recuperar o que puseram na mochila para aliviar o fardo.
Erick
Erikson, renomado psicólogo da Universidade de Harvard, refere-se a essa última
fase como um dos estágios de desenvolvimento de interesse, o que ele chama de
Integridade versus Desespero. Trata-se do último estágio da vida. Ao
tomar consciência de que o fim está próximo, existem duas opções: o indivíduo
se sente íntegro, realizado, admite que a vida foi plena, digna e bem
aproveitada ou, então, se desespera. Se a mochila estiver muito pesada, a
frustração aumenta.
De
certo modo, isso justifica o fato de o ser humano olhar somente para a mochila
alheia com olhar crítico e tendência ao prejulgamento, afinal, a mochila está
nas costas. É mais fácil avaliar a mochila de quem está à nossa frente em vez
de se preocupar com a nossa, a que não conseguimos ver.
Uma
das maiores armadilhas do nosso tempo é a síndrome do "eu já sei" ou
"eu já conheço isso". E mesmo que não saiba, eu entro no Google,
digito o que quero e a informação aparece ainda que não apresente uma fonte
confiável. Com um pouco de preguiça é possível escolher a primeira que aparece.
Com
frequência, esse pseudo-conhecimento disponível nos impede de conhecer a fundo
a realidade do assunto. O mesmo acontece com a nossa realidade pessoal. A soberba
nos impede de descobrir a verdade sobre nós mesmos.
Muitas
pessoas preferem não assumir o seu lado sombrio. Elas têm medo de encarar a
realidade, mas é praticamente impossível mudar a si mesmo sem conhecer a realidade
da sua própria sombra. Como a tarefa mais difícil do mundo é pensar, a maioria
prefere julgar e prejulgar, o que torna o trabalho mais simples.
Quer
você goste ou não, o mundo é um espelho de nós mesmos. Ao aceitar e perdoar os
seus próprios defeitos que não são poucos, assim como os meus, é possível aceitar
e perdoar os outros. Isso significa que se você parar de julgar a si mesmo é
bem provável que você pare de julgar os outros. Mas a gente demora a aprender
essa dura lição.
Se
você não consegue enxergar a sua sombra como gostaria, pergunte a alguém da sua
família ou às pessoas com quem trabalha, preferencialmente, a um amigo que não
tenha medo de dizer a verdade. Se for realmente seu amigo, ele vai indicá-la e
talvez você perceba que não é tão querido quanto imagina ser.
É
difícil viver num mundo que privilegia a beleza, o consumo, a injustiça, o ter
mais do que o ser, que exige as suas qualidades e faz com que você esconda os
defeitos. Entretanto, não é necessário ser perfeito para ser divino.
Todos
os seres humanos têm uma sombra que representa apenas uma parte da sua
realidade. Ela existe para indicar em que ponto estamos vulneráveis,
incompletos e onde podemos melhorar. Quando a nossa psique reconhece isso, a
sombra deixa de ser inimiga para se tornar uma fonte inesgotável de
competências, energia, potencial e autenticidade.
Quando
você compreende que tem todos os defeitos que enxerga nos outros, a perspectiva
muda. Se você se concentrar nos defeitos e nas imperfeições alheias nunca
encontrará a sua sombra. E se não encontrá-la, continuará sendo tão imperfeito
quanto aqueles que você julga. Será que a mochila alheia tem mais defeitos do
que a nossa?
Pense nisso e seja feliz!
Por Jerônimo Mendes
Colaboração: Tarcísio Pinto-EMATERCE
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